sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MORRE "CHICO" PASSEATA: VERÁS QUE UM FILHO TEU NUNCA FUGIU À LUTA.

12/08/2011

Em Fortaleza, a repercussão da morte foi grande. Políticos, artistas e médicos participam do velório e falam da perda que representa para a luta pela democracia e para a área da saúde a morte de Chico Passeata (foto).

Em suas diversas passagens, pelos cárceres, conheceu na própria pele e nas suas entranhas, o peso da nefasta intervenção de algozes que, obstinadamente, tentaram minar o seu espírito de luta, mediante a coação e a coerção, com emprego sistemático da tortura física e psicológica, sequer poupando a sua amada Helena Serra Azul, a fiel companheira de mais de quatro décadas de convivência.

O seu posicionamento político, calcado na franca defesa dos seus ideais, rendeu-lhe dissabores, extensivos aos seus familiares, que testemunharam sua via crucis, marcada por sucessivas e irregulares detenções, seguidas de uma condenação, pela justiça militar, cumprida por longos e penosos meses na ilha de Itamaracá.

Esses percalços de sua juventude truncaram a sua carreira acadêmica, iniciada em 1966, na Faculdade de Medicina da UFC, impedindo-o de se formar em 1971, ao lado dos colegas da Turma Andreas Vesalius, e retardando, em quatro anos e meio, a sua diplomação, como médico, o que aconteceu em evento realizado, na reitoria da universidade, em julho de 1976, para apenas dez diplomados. Apesar da defasagem temporal, os egressos de 1971, que ora se preparam para celebrar os quarenta anos de formatura, sempre o consideraram como um dos integrantes da briosa turma.

Já como médico, cada vez mais Chico Monteiro, porém sem anistiar a sua veia de condutor das marchas de protesto, abraçou, com alentadas determinação e disposição, as grandes causas sociais que afligem o povo brasileiro, notadamente aquelas comprometedoras das condições de saúde. Em resposta a essas carências de seus concidadãos, tornou-se um médico-sanitarista, pela prática, adquirida ao longo de sua atuação médica, começada em Aratuba, inserida no bojo das ações das Comunidades Eclesiais de Base, passando por Paulínia, Campinas, Canindé, especialmente voltada para a Atenção Primária de Saúde, e pela formação técnica e educacional, conquistada na Especialização em Saúde Pública na Unicamp e no Mestrado de Saúde Pública na UFC.

Muitos lamentam a sua morte:

“A sociedade cearense e a medicina, em particular, emudecem hoje (12/08/11), diante da perda do seu valoroso varão, o cidadão Francisco das Chagas Dias Monteiro, mais conhecido por “Chico Passeata”, alcunha oriunda de sua combativa militância estudantil, quando pôs sua integridade física sob risco, para dar combate ingente às forças repressivas, vigentes no Brasil pós-64, insurgindo-se ele, com palavras e ações cívicas, contra o estado de exceção então imposto.

O deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) lamentou a perda do histórico militante comunista no Ceará. “A luta por uma sociedade mais justa e igualitária se viu desfalcada de um de seus grandes protagonistas no Ceará”, disse o parlamentar, contemporâneo de Chico Passeata, com quem compartilhou muitos momentos de luta. “Monteiro foi, além de um exemplar militante do PCdoB, um amigo que jamais será esquecido”, afirmou.

“Ele foi um bravo militante, um lutador das causas populares durante toda a vida, inclusive enfrentando prisões e tortura. Chico Passeata nunca mudou seu modo de ver a luta por uma nova sociedade, com uma vida melhor para as pessoas”, declarou Chico Lopes, emocionado pela perda do amigo”, disse ainda Lopes, manifestando grande emoção ao lembrar as lutas vividas juntos.

O presidente do PCdoB do Ceará, Patinhas, disse que o falecimento dele é uma grande perda para a família, para os amigos e para o Partido. “A figura dele ficará gravada e será referência para que a gente continue a luta por uma saúde de mais qualidade e mais democracia no Brasil”, disse Patinhas, destacando a personalidade cordial do camarada.

Patinhas lembrou que, após a anistia, Chico trabalhou com ele na reorganização do PCdoB no Ceará, e atuou muito forte, a nível nacional, pela criação do Sistema Único de Saúde e durante todo o tempo pelo fortalecimento do SUS . “É uma tristeza muito grande para o mundo político e para os que militam na área de saúde”, finalizou.

Os colegas e admiradores destacavam, em suas falas, as qualidades do amigo: “Será sempre lembrado pelo seu espírito de luta e compromisso com as causas sociais. Lutou pelas liberdades democráticas desde a juventude até os dias atuais. Que esse exemplo de vida possa motivar as atuais e futuras gerações”, disse Eliude Oliveira.

“Na vida, a luta pela vida de todos foi o motor de sua existência. As injustiças enfrentou-as com a poesia e fez das estrofes de sua vida um ode ao compromisso com todos. Você não sai da luta. Você se multiplica em muitos de nós”, acrescentou o também amigo médico Eduardo Santana.

Chico Passeata morreu, aos 63 anos, vítima de câncer. O corpo do militante está sendo velado em uma funerária no bairro Aldeota, em Fortaleza. A missa de corpo presente será às 16 horas na própria funerária. O enterro ocorre às 17 horas no Cemitério Parque da Paz.

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