quarta-feira, 14 de setembro de 2011

João Paulo e as mudanças no mundo global: Filho de João Paulo critica o PT e o prefeito.

Seria interessante se pudessemos pensar o caso local de João Paulo, articulando-o com o momento da política global. Vivemos um momento  - da crise europeia à primavera árabe – de redifinição dos canais de mediação política . Parece que estamos chegando a um estágio de esgotamento do atual modelo de representação política. No Brasil, esse momento está chegando, sem talvez atingir por ora a mesma força que teve em outros lugares. Talvez seja na cidade do Recife onde podemos ver com mais nitidez essa dinâmica, em decorrência de um intenso sentimento coletivo de desamparo diante do desgoverno de João da Costa.  Desacreditadas com a política institucional, as pessoas estão se organizando para mostrar o seu descontentamento de várias maneiras. A vontade de falar mal do prefeito João da Costa é hoje o grande dínamo da socialização recifense.

Mas as pessoas não estão interessadas em saber do partido do prefeito, pois a maioria absoluta dos recifenses ainda votaria em João Paulo, independente do partido em que estivesse. Ora, ainda que se mantivesse no PT,  o mesmo partido do impopularíssimo João da Costa, João Paulo ganharia a eleição de 2012. Em certo sentido, a população sabe que os partidos hoje em dia não passam de facções cartoriais manipuladas pelos interesses das oligarquias. E o que são hoje certas alas do PT senão neo-oligarquias? O drama de João Paulo é que ele foi educado politicamente numa tradição de esquerda que entendia o partido como setor de vanguarda da sociedade, que munido de disciplina revolucionária e organicidade ideológica, atingiria os seus objetivos. O mundo é outro, a esquerda é outra, e são os próprios petistas de Pernambuco que transformaram o partido naquilo que ele é hoje: um lugar sem nenhuma organicidade ideológica e cheio de interesses particulares. Como João da Costa pode ter feito uma administração com prioridades sociais e políticas tão diferentes daquelas de João Paulo, sendo os dois do mesmo partido? Isso mostra a falta de organicidade do partido, sem dúvida.

É importante enfatizar o novo momento da história global em que estamos vivendo, no qual certos rótulos já não dizem tantas coisas, e os partidos parecem se apequenar diante do papel que teriam que desempenhar diante do mundo complexo em que vivemos. Não se trata de dizer que esquerda e direita não existem. Não é isso. Mas de dizer que nem sempre um partido “teoricamente” de esquerda, e “teoricamente” popular, vai ser um partido cuja gestão vai se pautar por práticas de fato populares e de esquerda. João Paulo pode abraçar uma ideia de partido já ultrapassada e se achar pertencente a um projeto “nacional”, ou pode de fato usar o grande descontentamento diante da política e a mobilização social que há hoje em dia em torno desse descontentamento para reafirmar um projeto popular e de esquerda – que marcou sua gestão – ainda que fora do partido que tradicionalmente empunhava tais ideias como bandeira.
Temos tempos interessantes à nossa frente.

PS. se você veio até aqui pela repercussão na mídia, seja bem vindo, mas discuta os argumentos. Agressões pessoais e assuntos fora de pauta não são bem vindos.

COMENTÁRIOS DE JAMPA:

Na minha análise, João Paulo era filiado a uma ala enfraquecida do PT. Ao se candidatar, ninguém acreditava que ele fosse vencer. O próprio Humberto Costa disputou a vereança (o mais votado da história até hoje). Uma vez que JP conseguiu a prefeitura, as disputas internas pelo poder dentro do PT começaram a se acirrar. JP disputou a reeleição legitimamente mas a sucessão abriria novamente o debate interno. JP não cedeu e conseguiu manter a hegemonia de seu grupo político indicando o Secretário João da Costa (eleito deputado estadual com total empenho de JP). Com a derrota de Humberto Costa para o governo do Estado, essa pressão sobre JP passou a ser ainda maior! O grupo de Humberto queria a PCR e JP não estava disposto a fazê-lo.

Eduardo Campos tem uma aliança forte com PT, PTB e PDT. Logo, nenhum desses partidos irá abrigar JP para disputar a PCR em 2012. PSDB e Democratas é impossível. Restam PCdoB e PMDB.

No PCdoB João Paulo teria o Deputado Luciano Siqueira ao seu lado, faria uma campanha popular, porém de partido único. Para piorar, o partido poderia perder Olinda com o PT lançando candidato próprio. E isso não seria impossível, pois a gestão de Renildo não tem uma boa avaliação.

No PMDB, João Paulo não ficaria politicamente descaracterizado pelo fato de o partido estar na Vice-presidência e ser aliado do PT no plano nacional (e o argumento da nacionalização das alianças seria interessante). Mas o problema seria convencer o PSDB, o Democratas e o PPS a não lançarem candidato próprio, aumentando as chances de eleição de JP. E, após eleito, JP não estaria tão livre para implementar uma gestão nos moldes da anterior devido ao apoio de partidos tão diferentes de sua visão política.

Logo, só resta a João Paulo continuar em Brasília, o que é uma perda enorme para o Recife. Hoje não há candidato à altura dos problemas que a cidade enfrenta.

fonte: Blog do Jampa

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